Filosofia e Cinema: What is real?

No primeiro filme da trilogia Matrix (EUA, 1999, de Larry e Andy Wachowski; vocês devem lembrar-se desse marco do cinema), o personagem Morfeu oferece ao herói Neo duas pílulas: uma, mostrará a verdadeira realidade da matrix e a outra conduzirá ao esquecimento da mesma.

Morfeu: A Matrix é um mundo dos sonhos gerado por computador... Feito para nos controlar, para transformar o ser humano nisso aqui.

(Morfeu mostra uma bateria).

Neo: Não. Eu não posso acreditar. Não é possível!

Morfeu: Eu não disse que seria fácil, Neo. Eu só disse que seria a verdade.

Embora confuso, Neo escolhe conhecer a verdade. Será que teríamos a coragem de Neo em fazer esta escolha ou seria melhor viver num mundo de sombras como no mito da caverna de Platão?

Mas o que é a matriz? Ela é real?

Nesse momento do filme percebemos que a realidade não é o que parece. A vida de todos não passa de uma simulação feita por sistema de inteligência artificial (A.I). Máquinas mantêm a humanidade acorrentada a essa enorme simulação de nossa realidade, que é a matrix. Diante disso, assim como a personagem Neo é levada a questionar o que acredita ser real, nós também ficamos confusos quanto ao que podemos considerar realidade. Podemos confiar no mundo que nos cerca ou em nossos sentidos?

O que é a realidade? O que é a verdade? O real também é verdadeiro?

Questões como estas há muito são indagadas. Por exemplo, na antiguidade, os filósofos Platão e Aristóteles já teorizavam sobre a verdadeira natureza do real. No mito da caverna, os humanos seriam prisioneiros, amarrados a um mundo de aparências que não refletiam a realidade. Segundo Platão, a saída está na filosofia que mostrará o caminho para o mundo das ideias, o lugar onde está a essência das coisas. Para chegar lá, é preciso um profundo processo de autoconhecimento que pode levar o indivíduo a discernir realidade de ilusão.

Já para o Hinduísmo, a realidade não passa de um sonho do deus Brahman. A realidade ser vista como um sonho é algo mais comum do que parece. Morfeu: “Já teve um sonho tão real a ponto de se questionar se era sonho ou realidade?”. René Descartes, pensador francês do século XVII, escreveu: “Quando penso sobre meus sonhos claramente vejo que nunca existem sinais certos pelos quais estar acordado pode se distinguir de estar dormindo. O resultado é que fico tonto e esse sentimento só reforça a idéia de que posso estar sonhando.” Então, o que vamos aceitar como real: o que vemos quando estamos acordados? E se o que vemos não é o que vemos?

Se realidade significa o ajuste que fazemos entre aquilo que vemos e a ideia do que estamos vendo. Podemos nos enganar quando aquilo que vemos não é o que deveríamos ver? Assim, a realidade estaria sujeita a escolhas. Já que a construção do mundo e das situações depende de uma complexidade de fatores. O termo “realidade”, por sua vez, remete a “tudo o que existe”, inclui tudo o que é. Esse termo também significa “propriedade do que é real”. E real é tudo aquilo que existe, dentro ou fora da mente.

Construímos nossa realidade com os nossos atos. Assim, a realidade pode ser diferente para cada um de nós. Ela pode ser como um sonho ou um programa de computador, até mesmo como uma ilusão. Como sugere a trilogia Matrix, nosso mundo poderia ser uma realidade simulada. Mas a grande questão é: em que acreditaremos? Como construímos nossa realidade, mesmo não tendo certeza de que ela se constitui. Este é um desafio diário que alimenta nossas mentes com ilusões, sejam elas reais ou não.

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